Casos de Hanseníase aumentam no Paraná, segundo DataSus

Curitiba é a quinta cidade que mais registrou casos da doença nos últimos quatro anos


Imagem: Rhubia Ribeiro 

Conhecida como “Lepra”, a hanseníase é considerada uma das doenças mais antigas da humanidade segundo o Ministério Público, ainda que boa parte da população tenha pouco conhecimento sobre ela. No Paraná, os casos da doença cresceram de forma alarmante nos últimos quatro anos. Dados do DataSus mostram que foram diagnosticados 611 casos em 2018, enquanto, em 2014, não passaram de cinco, com o aumento de aproximadamente 60 vezes.

Mato Grosso foi o estado com mais diagnósticos da doença no ano passado, com 5.764 novos registros da hanseníase. Seguido por Maranhão, que registrou 3.828 novos casos. Pernambuco vem logo após, com 2.968 casos.

Municípios que registraram mais casos da doença no período de 2014-20

Os sintomas podem se manifestar em até sete anos após o contágio e, se não for tratada corretamente, pode causar incapacidade física e deixar as mãos e os pés retorcidos.

Segundo a enfermeira Karine do Nascimento, do Fraternitas — centro de idosos de Piraquara (PR) que abriga idosos que tiveram hanseníase -, um dos fatores que facilita o aparecimento e a propagação da doença é que “existe uma parcela da população que não tem acesso aos serviços de saúde, de não ter uma higiene adequada”. Hábitos precários de higiene, principalmente quanto à limpeza das mãos, possibilitam a propagação da doença. Alimentação saudável e práticas de atividades físicas também contribuem para impedir o contágio da doença.

Atualmente, o protocolo médico não prevê mais isolamento do paciente em leprosários para se proteger da doença. De acordo com a enfermeira, um dos riscos para contágio é o contato íntimo e prolongado, e a cura envolve um tratamento específico: “Primeiro é investigado se ele [paciente] tem múltiplos-bacilos ou se é pouco. E baseado nisso é determinado qual será o tratamento que é de seis a 12 cartelas do medicamento”[Poliquimioterapia], acrescentou Karine.

tratamento é gratuito e fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Imagem; Rhúbia Ribeiro

A história de quem sentiu na pele o que é a Hanseníase

Até o descobrimento da cura da hanseníase, há mais de 2.600 a.C, o controle da doença era feito com o isolamento das pessoas em colônias e hospitais (medida determinada por autoridades federais).

Temida, associava-se ao pecado, à impureza, à desonra e, muitas pessoas que eram conduzidas aos isolamentos (conhecidos como leprosários) não conseguiam voltar a se integrar na sociedade: afastadas de suas famílias e sofrendo, também, com preconceito, muitas vezes eram abandonadas.

Em Piraquara, em 1925, iniciou-se a construção do antigo leprosário São Roque — referência no acolhimento dos atingidos pela lepra.

Alegre e bem-disposto, seu Carlos Dartico, 91, passou pelo São Roque. Ele veio de Irati-PR para Curitiba com 12 anos, ao lado de seu pai, sem saber que tinha a doença. Quando descobriu que estava infectado, foi para o leprosário de Piraquara se tratar com injeções que, segundo ele, o deixavam “todo picadinho, e como doía”. Dois anos depois estava curado e deixou o leprosário partindo para Ponta Grossa, onde trabalhou por alguns anos.

Em 2006, Carlos Dartico se aposentou e foi para o Fraternitas, local onde mora até hoje. O centro para idosos, localizada em Piraquara, acolheu alguns pacientes do São Roque, e Carlos foi um deles.

Carlos é um reflexo que representa o desligamento de pessoas com hanseníase de seus familiares. Apesar de não receber a visita de nenhum familiar afirma: “Estou bem, minha vida é em Piraquara”.


Créditos da reportagem: Marcos Paulo Bassetti e Rhúbia Ribeiro


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